segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As Festas de Final de Ano

Sei que as próximas linhas não formam um artigo teológico. No entanto, o cotidiano tem sido tema para as mais diversas mensagens e importantes reflexões. Por isso, essa breve reflexão.

É de conhecimento geral o frenesi promovido pela mídia durante as festas de fim de ano. As compras, para alguns, quase ou mais que uma obrigação, são envolvidas por uma expressão de cunho aparentemente espiritual: o "espírito de natal".

Em um rápido balanço podemos considerar excelente o espírito de natal. Por outro lado, lamentamos que ele não dure mais que trinta rápidos dias, se formos bastante otimistas. É lógico que as diversas atividades públicas, empresariais e pessoais precisam obedecer a um calendário e não seria possível um período ininterrupto de festas. Como exemplo, leve-se em consideração a extensa lista de feriados previstos para 2009.

Percebe-se cotidianamente um rolo compressor de más notícias empurradas goela abaixo do telespectador que envolvem tragédias e a constante violência que caracterizam as grandes cidades. Entretanto, como num passe de mágica, os freqüentes seqüestros, atrocidades, escândalos políticos e as falcatruas combinados cedem espaço para atos de filantropia, para serviços comunitários e para projetos desenvolvidos junto a crianças e adolescentes.

Atletas de diversas modalidades promovem os famosos jogos beneficentes. As vinhetas (propagandas) televisivas ficam mais leves. A programação parece também ficar mais amena. Por exemplo, dois canais de TV mostraram na sexta feira (19/12/08) um trabalho espetacular feito com o ensino de música com meninos e meninas de periferia. O trabalho de base anônimo feito por profissionais filantropos é de chamar a atenção até dos leigos. São maestros que poderiam estar lidando com músicos profissionais e diante de outras lentes e perspectivas mais abrangentes, que abriram mão de certas comodidades ao promoverem a formação profissional de crianças e adolescentes. O resultado não se restringe à formação profissional mas abrange a auto-estima, o respeito, a disciplina e acaba por atingir as famílias de onde procedem os carentes.

O Fantástico do dia 21/12/08 encerrou o programa com um grupo de meninas deficientes visuais em uma apresentação de alto nível do Balé Quebra-Nozes. Pergunto-me por que o espírito do natal não pode durar mais um pouco.

O papel da mídia é, em seus pressupostos, veicular a notícia, a informação e o entretenimento. Mas, por que um seqüestro ou um crime hediondo e repugnante não são noticiados dentro dos padrões modernos de telejornalismo, onde o profissionalismo é a tônica? No entanto, o que se vê são exageros, constrangimentos e uma concorrência agressiva entre os canais onde o realce não está na notícia em si, mas em um quadro que se compara à abutres dilacerando uma presa. Para manter alto o IBOPE os exageros se justificam e se sacrificam a ética e o bom senso. Afinal, o que é mais importante do que os pontos do IBOPE?

Tem-se dito acertadamente que os sonhos pessoais devem ser perseguidos e acalentados. O meu sonho se parece mais com uma utopia do que com um sonho, mas aqui vai: sugiro a criação de um blog, uma revista ou um canal de TV permanentes que contem somente boas notícias. Reitero: apenas as boas notícias de heróis anônimos e de filantropos que resgatam vidas aparentemente perdidas durante todos os dias do ano. As boas notícias, sabemos, serão poucas diante da enxurrada a que, sem querer, nos acostumaram. Mas, um rio que nasce como um tênue fio de água muitas vezes torna-se caudaloso, profundo e navegável.

Se as festas de fim de ano conseguem promover o espírito de natal, por que não se promove um espírito de festas que seja mais abrangente? Um sentimento que exista todos os dias apesar da conturbação social e espiritual que caracteriza o mundo contemporâneo. Que bom seria se o festejado espírito de natal pudesse retroceder ao mês de janeiro e num crescente chegasse a dezembro e não parasse mais de crescer.

Há meios de fazê-lo? Sim, pois os que promovem o espírito do natal estão conosco todos os dias do ano.

Pr. Josué Ribeiro da Costa

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