quarta-feira, 24 de março de 2010

Crente ou Cristão?

Não há erro no uso de ambas as palavras. Erros, mal testemunhos, mazelas, escândalos, na verdade ficam por conta de alguns usuários. A palavra crente tornou-se vulgarizada e de alguma forma penalizada em função do péssimo testemunho que muitos que se dizem ou são conhecidos como crentes têm dado no meio onde vivem.

Não são poucas as vezes que se ouve: "conheço um crente que fuma, que bebe bebida alcoólica, que compra e não paga, que não tem palavra, que é mentiroso"; "não faço negócio com crente"; "se for para ser crente do jeito que é beltrano, prefiro não ser", e por aí vão os desabafos que em sua maioria têm procedência, sabendo-se que outras vezes o que aparece é o preconceito dos que não gostam mesmo de crente.

Na história do cristianismo primitivo os inimigos do evangelho de Jesus usavam o termo cristão de forma depreciativa. O termo aparece em três lugares no Novo Testamento, em Atos 11.26; 26.28 e na 1ª Carta de Pedro 4.16. Cristão é um seguidor de Cristo. Um seguidor à risca. Não tem a idéia de apenas um seguidor teórico ou de um simples admirador. O cristão no sentido prático segue o exemplo de Cristo. Precisa ter as atitudes de seu Mestre. Mesmo não sendo igual a Cristo, o cristão persegue os ideais dos ensinos propostos por Jesus nos evangelhos, aliados aos das cartas também inseridas no Novo Testamento. E é bom que se diga que a história do cristianismo mostra o quanto era penoso ser cristão. O próprio termo equivalia a ser inimigo principalmente da Roma imperial. Quando o apóstolo Pedro escreve em sua carta aludida acima diz: "mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome". Ora, que motivos um cristão daria para sofrer, se não era assassino, ladrão ou malfeitor? Para fins de esclarecimento é bom que se diga que os povos dominados por Roma praticavam o sincronismo religioso sem nenhum problema, enquanto os cristãos respeitavam as leis romanas mas no que tangia a adorar ou prestar culto a César as coisas mudavam drasticamente.

Corrobora aqui a Bíblia de Referência Thompson em seu Suplemento Arqueológico, p. 1566: "Os cristãos foram acusados de ser insociáveis e excêntricos, e passaram a ser odiados e considerados inimigos da sociedade. Todavia, eles eram modestos e simples no vestir, rigidamente morais em sua conduta, e se negavam a assistir aos jogos e às festividades. Alguns cristãos inclusive censuravam àqueles que vendiam alimentos para os animais que tinham de ser sacrificados aos deuses pagãos. O povo chegou a temê-los, já que não queriam que a ira dos deuses se acendesse devido ao fato dos cristãos se negarem a render-lhes sacrifícios. Se as colheitas fracassavam, o rio Tibre transbordava ou havia epidemias, o povo gritava: "Os cristãos aos leões!" Porém, os cristãos eram bondosos com todos aqueles que tinham problemas, e ficavam cuidando dos enfermos quando havia epidemia, enquanto todos fugiam.

Para provar a lealdade dos homens, o governo romano exigia que todos se apresentassem em certos lugares públicos e ali queimassem um pouco de incenso em honra do imperador. Os cristãos consideravam isto um ato de adoração ao imperador, e se negavam a fazê-lo. As autoridades começaram a observar essa atitude e a castigá-los, inclusive com a morte".

Algumas dessas execuções eram seguidas de extrema barbárie. Para os seguidores de Cristo constituía-se em elevada honra, a de morrer por seu Senhor.
O Novo Testamento também registra que os cristãos foram chamados: Os do caminho, Atos 9.2; irmãos, Atos 15. 1, 23; 1ª Corintio 7. 12; discípulos, Atos 9. 26; 11.29; crentes, Atos 5. 14; santos, Carta aos Romanos 8. 27; 15. 25.

Nem todas as pessoas que dizem crer em Jesus estão salvas, (Mateus 7. 21). A fé morta é caracterizada por pessoas que dizem crer em Jesus, mas cujo procedimento é contraditório. A fé meramente intelectual, é aquela em que a pessoa consente com certas verdades, mas não é transformada como Jesus comunicou ao Dr. Nicodemos: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Evangelho de João 3.30).

Há uma pertinente explicação da passagem da carta de Tiago cap. 2, v 19," Crês, , que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem", feita pelo ilustre Pr. Hernandes Dias Lopes em seu livro "Tiago, transformando provas em triunfo". São Paulo, SP: Hagnos 2006 (Comentários expositivos Hagnos, pp 51,52).
"A fé morta é uma fé que atinge apenas o intelecto. A fé dos demônios atinge o intelecto e também as emoções. Os demônios têm um estágio de fé mais avançado que muitos crentes. A fé dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional. Eles crêem e tremem!
Crer e tremer não é uma experiência salvadora. Você não conhece uma pessoa salva pelo conhecimento que adquire nem pelas emoções que demonstra, mas pela vida que vive ( Tiago 2.18).
No que os demônios crêem? Warren Wiersbe responde a essa pergunta, dizendo: em primeiro lugar, os demônios crêem que Deus é um só. Os demônios crêem na existência de Deus. Eles não são nem ateístas nem agnósticos. Eles crêem na "shema" judaica: "Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor". Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.

Em segundo lugar, os demônios crêem na divindade de Cristo. Os demônios corriam para ajoelhar-se diante de Cristo para adorá-lo (Marcos 3.11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles se prostravam aos pés do Senhor Jesus.

Em terceiro lugar, os demônios crêem na existência de um lugar de penalidades eternas. Eles sabem que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos. Eles sabem que o inferno é destinado para todos aqueles cujos nomes não forem encontrados no Livro da Vida. Eles não negam a existência do inferno (Lucas 8. 31). Eles crêem nas penalidades eternas.

Em quarto lugar, os demônios crêem que Cristo é o supremo Juiz que os julgará. Os demônios sabem que terão de comparecer diante de Cristo, o supremo juiz. Eles crêem no julgamento final. Eles crêem que todo o joelho se dobrará diante de Cristo. Entretanto, os demônios estão perdidos, eternamente perdidos. Uma fé meramente intelectual e emocional coloca-nos apenas no patamar dos demônios".

Conclusão:

Você é crente e cristão? É cristão e é crente? Os parâmetros para a sua avaliação são apenas pessoais ou são baseados na Santa e Bendita Palavra de Deus que a tudo prescruta como bem falou o salmista? "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno" (Salmos 139. 23,24).

Que Deus em Cristo Jesus a todos abençoe agora e na eternidade!

terça-feira, 16 de março de 2010

Introdução aos profetas menores

Na Bíblia hebraica, os profetas menores constituem um volume só. Seu título é "Os doze". A Septuaginta, o nome que se dá ao Antigo Testamento traduzido para o grego, os intitulou de Dodekapropheton, que significa "Os Doze Profetas". O livro deuterocanônico Eclesiástico (escrito em cerca de 190 a.C, que não consideramos como inspirado, e que a Igreja Católica acrescentou ao cânon em 1548, no Concílio de Trento) traz esta declaração sobre eles: " Quanto aos doze profetas, que seus ossos floresçam no sepulcro, porque eles consolaram Jacó, eles o resgataram na fé e na esperança" (Eclesiástico 49.10). Escrito por Jesus ben Sirac, no segundo século antes de Cristo, este livro mostra que eles eram bastante estimados no judaísmo. Por isso que o citamos como registro histórico, e não, obviamente, como obra inspirada.
As designações Profetas Maiores e Profetas Menores foram cunhadas já no período cristão. Elas surgiram com Agostinho, ao redor de 400 d.C., na sua obra A Cidade de Deus. Eles são chamados de menores não no sentido de seu valor ou da importância do seu conteúdo, mas do tamanho da mensagem. Há uma curiosidade que mostra como o Espírito Santo, autor último do Cânon Sagrado ("Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" - Segunda carta de Pedro 1 . 21), agiu de forma profundamente inteligente. É que os nomes dos profetas, dados como títulos dos seus livros, coincidem com a mensagem central que eles pregavam. Há, realmente, uma coincidência muito grande entre o significado dos nomes dos profetas e a mensagem anunciada por eles. Sua mensagem já está, em boa parte, no sentido dos seus nomes.
"Os Doze", com toda probabilidade, foram agrupados por Esdras e a Grande Sinagoga (nome dado a um grupo de 120 doutores da Lei) mais ou menos em 425 a.C., acomodados em um rolo só, de modo a facilitar o manuseio e a leitura. O volume contendo todos os profetas menores se constitui de 67 capítulos e 1.050 versículos. È menor que Isaías, que tem 66 capítulos e 1.202 versículos; que Jeremias, que tem 52 capítulos e 1364 versículos; e que Ezequiel, que tem 48 capítulos e 1.273 versículos. No entanto, fazemos esta advertência, não se deve pensar que a pequena extensão de sua obra possa nos levar a presumir de pouco valor espiritual. Costuma-se dizer que os melhores perfumes vêm em pequenos frascos. Não querendo estabelecer um critério de "melhor" ou "menos melhor" no tocante aos livros da Bíblia, devemos ressaltar que os profetas menores têm muito conteúdo espiritual. Se tivermos sensibilidade e soubermos ouvir o que o Espírito Santo nos ensina através deles, nossa vida será grandemente enriquecida. tenhamos isto em mente ao estudá-los.
Os profetas menores podem ser divididos em três grupos, no tocante ao seu período histórico: 1º) Os profetas de Israel, no 8º século; 2º) Os profetas de Judá, do 9º ao 7º séculos; 3º) Os profetas pós-exílicos de Judá, nos 6º e 5º séculos.
Fonte: "Os profetas menores (II), Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias/ Isaltino Gomes Coelho Filho. - Rio de Janeiro: JUERP, 2002-04-25".